Cruzo por pessoas cansadas
Que parecem querer me reconhecer:
O velho cansado puxado pela criança;
A cansada rebeldia do jovem
Com a camisa do Guns.
O suor lerdo risca os rostos
Em roupas malcheirosas
Do trabalho ao relento
Nas vagarosas gruas
Que erguem a cidade cansada,
Onde apenas se espera viver.
Ando por calçadas trincadas,
De pedras expostas,
Da mulher descabelada
Num discurso ao mundo que não a tem;
Dos carros esfumaçados
E dos vultos cabisbaixos das freiras,
Que, creio, ainda creem.
Ando por paisagens
Que são eu mesmo.
O catador olha-me piedoso
Como quem vê um rosto cansado.