SÉRGIO FLORES DE CAMPOS
PROSA, VERSOS E OUTRAS FALAS
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Poema Que Esqueci

 

 

Outro dia dei-me de que estou esquecido,

Não respondo ao chamado do acontecimento.

Esqueci o fogo ligado,

não lembro a cor da escova de dentes,

esqueci-me de palavras banais:

Tentei falar Estado de Coma, não lembrei;

na palavra Dúvida, gaguejei;

Ancorei o raciocínio na palavra Liberdade, desordenei.

Nos pequenos vasos, minhas plantas têm crescido demais,

quando tento apará-las meus braços desfalecem sem vigor,

e com a barba tal qual, já lhes falei?

Tenho ouvido ruídos suspeitos por detrás das portas,

mas acredito que ninguém veio.

Há lembranças que persigo, mas as perco,

outras, não consigo expulsar das pálpebras;

por isto, aperto o braço em teste, estou acordado.

Nunca tive qualquer terror ao fato de existir

ou qualquer pudor em interligar o cotidiano,

agora meio absurdo, porém.

Ao menos os bons hábitos à mesa mantenho, creio;

Para meus vizinhos disfarço em acenos agradáveis,

sinto pela sua fé há muito em desuso,

talvez nem lembrem do que lhes foi mais caro.

Tenho tido temores de ser pego vagando

vestido apenas um pijama verde

em protesto contra a realidade crua,

não que receie pelos gracejos,

mas pelas meias furadas a deixarem os dedos às pedras

para que cumpram seu desígnio.

Tenho dúvidas se posso escrever este breve relato,

porém, percebo que hão de esquecer

mas, caso lembrem, que não se conformem,

a memória atualiza nossa existência,

quando se esvai, nos condena à falta de saudade,

eis o nefasto temor, a desapropriação de si mesmo;

Este é o único tirano capaz expropriar a sabedoria.

Fico estático à janela, dentro de olhos que não veem,

até lembrar que esqueci das cores dos girassóis:

Amar....

O ônus de viver aparenta ser temerário

para quem não consegue falar o que pensa,

se fica escaleno, desencontrado em um cubículo

onde sequer a misericórdia suplica-se a... não lembro.

Ando meio desconectado,

mas nem sei do que,

porém, as fotos já guardei.

Tenho um gato do qual esqueço o nome,

não importa, acho que ninguém conversa com gatos

para chamá-los pelo nome,

cobrá-los pela excessiva ociosidade

e por estarem presos no presente;

Mantenho a mão leve para não magoar a existência

do gato que nem sabe o meu nome.

Ocorrem-me pensamentos, acresço,

pensei sobre Apreensão da Realidade

e perdi o conceito,

(Verdade, acreditem em mim)

então, deixei os remédios,

química e ideias tem consequências.

Por certa medida, no contraste de ter e perder,

se está defronte a um bem recolhido de um naufrágio

que se agradece por ter-se salvo.

Está bem, o que coube a mim

é intransferível, pois,

com gosto, em lei,

a vida de todos os dias, aceitei;

Sou um por enquanto,

seria óbvio terminarmos esta conversa

com a pergunta: Do que estamos falando?

- Por favor, não me perguntem.

 

Poema Que Esqueci:

https://www.youtube.com/watch?v=dxcCzS9agwc

https://sergiofloresdecampos.prosaeverso.net/

 

SÉRGIO FLORES DE CAMPOS
Enviado por SÉRGIO FLORES DE CAMPOS em 07/08/2024
Alterado em 07/08/2024
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